domingo, 25 de março de 2012



Ele bem sabia que não estava ao seu alcance dar-me tudo o que eu lhe pedia. Na realidade, ele sempre quis, mas não lhe era permitido. Ele era mais um homem comum a dar duro no dia a dia, a suar no sol escaldante, pintando casas e prédios. Em cada pincelada, sempre eram retratados sonhos, ali ficava eternizada sua luta. Sinto, ele sempre gostou do que fez, ele gosta do que faz. Ele ainda chega em casa à noite, cansado e realizado. Há brilho em seus olhos, há uma chama que os anos jamais consumiram. Ele afaga meus cabelos e diz meu nome, diz-me boa noite e me olha como se ali estivesse uma criança a dormir e em palavras baixas, pede a Deus toda a proteção. Mal sabes, papai, que nestes momentos, em todos estes anos, concedeu-me todas as noites, a essência impagável do amor incondicional. Deu-me estrelas, mesmo quando o céu se mostrou escuro. Deu-me muito mais do que lhe pedi, muito mais, e ele mal sabe disso. Em sua simplicidade, se fez menino travesso a brincar com a vida, a apostar corrida com o tempo, a roubar-nos risos descontrolados. Em sua grandeza, se fez um gigante imbatível,a arrancar-me suspiros surpresos de um herói que desbrava anos a fio e que pacientemente, molda todo o amor do mundo em apenas um gesto.

3 comentários:

  1. Caramba Rooh, que texto mais emocionante. Acho que, quando se trata de laços familiares, todos os textos se tornam extremamente pessoais e emocionantes, e com suas palavras, eles ficam mais emocionantes ainda. Fato é que, lendo essas palavras, a gente acaba indo a outro nível de pensamento, e começa a rever muitas coisas. É impossível não engolir a seco ou ficar momentaneamente paralisado.
    Sem mais, Rooh, você me deixou sem palavras com esse texto, parabéns!

    Bom saber que está de volta com seus textos por aqui, gosto muito deles! Por muitas vezes enquanto esteve ausente, eu passava por aqui pra reler alguns, principalmente um em que você cita ter ganho uma bicicleta, acho esse texto fantástico! rs

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  2. Rooh, que texto lindo! É isto que me deixa encantada em cada texto seu, é a doçura com que descreve cada palavra, é impressionante! E eu realmente admiro isso, porque eu sei que não tenho essa habilidade específica. Você escreve contos magníficos e eu nunca fui boa em escrever contos, por isso, admiro bastante a sua escrita!
    E sim, eles mal sabem que tudo o que a gente precisa é aquele velho afago na cabeça dizendo nosso nome e oferecendo um "boa noite". O amor cobre multidão de pecados. Texto lindo, Rooh!

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  3. Engraçado é que eu comecei e terminei o comentário anterior dizendo a mesma coisa! Mas é a mais pura verdade, é lindo e é lindo e é doce, Rooh! Parabéns! ;*

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